O mundo é cruel. A vida é assim mesmo. Oportunidade é para poucos. A economia do país está me destruindo. Essas são algumas das frases que costumo ouvir entre conversas com empreendedores. Se pensarmos um pouco, podemos constatar que podem ser verdades, porém, é importante descobrir o que está por trás delas.
Antes das dicas para sua falência, alguns dados sobre empreendedorismo no Brasil.
No ano passado foram abertas 708,6 mil empresas no país e fecharam 713,6 mil. Esses dados são do IBGE e, pelo segundo ano consecutivo permanece o déficit de negócios formais no Brasil, ou seja, temos um saldo negativo na atividade empresarial. É bom observar também que o PIB (Produto Interno Bruto) caiu para 3,8% em 2015, o pior resultado em 25 anos.
A maioria das empresas encerradas eram recém criadas
Das 708,6 mil empresas que entraram no mercado, em 2017, mais de 68% tinham acabado de nascer e no restante, quase 32% representava empresas reativadas.
Mesmo com esse déficit as pesquisas apontam o crescimento constante na quantidade de empreendedores no Brasil e dentro desse contexto, quase 30% é formado por empreendedores iniciantes, ou seja, aqueles que estão iniciando um negócio ou o fizeram nos últimos três anos. Pense nisso.
Agora, como prometido, as dicas para destruir seu negócio
- 1 – Comece tendo uma ideia. Sabe aquela que você teve no último domingo? Essa mesmo. Transforme-a em um negócio. De preferência, sem fazer nenhuma checagem de mercado e sem questionar se você ficaria feliz em realizá-la. Não procure saber se alguém já a implantou e nem se preocupe se a concorrência local irá suportar mais um negócio deste tipo.
- 2 – Ignore a necessidade de um plano de negócio. Continue pensando que isso não serve para alguma coisa, que é uma grande perda de tempo. Seja o mais displicente possível e evite fazer esse planejamento, garantindo, assim, muitas dores de cabeça e um futuro cheio de problemas. Se apresse para abrir as portas do seu novo negócio.
- 3 – Você não pode evitar a escolha de um nome para o seu empreendimento. Não fique pensando muito, afinal, “quem pensa não casa” e, antes de tudo, você tem pressa. Mantenha a crença de que o nome não é importante escolhendo-o a partir das palavras que você gosta. Basta que seus parentes e amigos achem bacana para adotá-lo. Definitivamente, não procure uma empresa especializada, ignore que profissionais estudaram anos a fio para entender esse assunto e acredite piamente no potencial do seu sobrinho criativo.
- 4 – Agora que você já tem um nome, siga para a logomarca. Se você não tem expertise para isso, mas é adepto do “faça você mesmo”, encontre um tutorial na internet ou apenas inicie o Corel Draw em seu computador e mãos à obra. É hora de “desenhar” o logotipo que irá compor a placa na fachada da sua loja ou negócio. Ou contrate aquele sujeito que “mexe com Corel” ou o seu sobrinho criativo que ajudou a escolher o nome. Assim você ganha tempo para ficar imaginando seu futuro.
- 5 – Nem pense em se preocupar com a identidade visual da empresa. Basta a marquinha desenhada e tudo estará resolvido. Depois você mesmo manda imprimir o cartão, fazer a placa, escolhe as cores e o layout da firma. Não acredite que a unidade visual e a escolha correta de cada detalhe na sua imagem são importantes para o sucesso. Afinal, você sabe que tudo isso não passa de gasto.
- 6 – Pensando nisso, uma boa medida para a falência é não fazer distinção entre gasto e investimento. Aliás, se tiver dificuldade em definir, considere que tudo é “gasto”.
Dessa forma, você não vai se preocupar com resultados e nem com o retorno do investimento. Comece colocando as ações de marketing e comunicação na coluna de gastos sem previsão de recursos para isso. Isso te desobriga de pesquisar empresas para atendê-lo. Mantenha o foco em fazer tudo do jeito mais em conta, mais barato ou de graça e mais rápido. No futuro, quando for obrigado a refazer sua marca, seu site e tudo o mais, você vai dar pulos, chorar sobre o leite derramado e lamentar o tempo perdido. - 7 – Não pesquise. De preferência, copie o que já inventaram. Recriar a roda? Nem pensar. Neste caso, você terá 100% de chance de alguém já ter implantando sua ideia, registrado esse nome no INPI ou criado u’a marca para um produto ou serviço igual ao seu.
- 8 – Como você já sabe, o GOOGLE pode te dar um monte de ideias para qualquer coisa. Dê um google e use o que encontrar. Muita empresa já faliu por ser obrigada, judicialmente, a alterar o seu nome ou marca, outras por terem que pagar rios de dinheiro pelo uso de imagens e textos (principalmente no caso de slogans) aos donos das ideias originais. Sem contar aquelas que fecharam suas portas apenas por utilizar algo que todo mundo usa só porque é bonitinho e de graça. Essas ações vão demonstrar que sua empresa ou produto não têm nenhum diferencial.
- 9 – Lembre-se, para falir você não deve ter foco. Se em qualquer momento surgir uma ideia e achar que ela é melhor que a primeira, comece de novo. Deixe para trás o que já tiver feito e reinicie sua caminhada para o insucesso. Não planejar favorece muito essa atitude, portanto, continue sem planejamento.
Por falar em foco, se você ainda não se decidiu pela falência, leia esse blog post com as 4 ferramentas para te ajudar na gestão do seu tempo e do seu negócio. - 10 – Preocupe-se apenas com os gastos imediatos. Faça as contas do que você tem em caixa, use tudo e nem pense em deixar algum dinheiro como fundo de circulação (capital de giro). Dizem que os primeiros seis meses de um negócio são cruciais para definir o seu sucesso ou não, eles podem ser o trampolim para um longo salto. Sem capital de giro para “segurar” os primeiros meses é muito mais fácil alcançar o desastre e o fechamento definitivo das portas.
E um bônus infalível
Se você leu até aqui e ainda está em dúvida sobre como alcançar o fracasso, tenho a dica bônus que vai garantir isso, a chave de ouro para o seu baú de tristeza e agonia com o seu empreendimento.
Contrate um consultor, na área em que mais necessitar: marketing, finanças e contabilidade, atendimento, formação de equipe ou outra. O bom consultor costuma conversar, participar do seu dia-a-dia, fazer briefings adequados, entender sua empresa ou processos e fornecer soluções e planos de ação estratégica, para você iniciar ou dar continuidade ao seu empreendimento. Depois de receber todas as recomendações, apenas não cumpra o que ele indicar a você, faça ouvido de mercador a todos os “palpites” e continue agindo conforme sua imaginação, será muito mais fácil e não vai te dar a dor de cabeça de ter que mudar a si mesmo, melhorar sua conduta e nem alterar os processos que você já criou.
Pronto! Dessa forma você vai conseguir constar na pesquisa do IBGE 2019 como mais um déficit empresarial.